Nada é tão urgente quanto parece no meio do caos
Quando tudo parece desabar ao mesmo tempo, nosso impulso é correr.
Reagir. Resolver. Como se agir rápido fosse a única forma de não afundar. Só
que, em momentos assim, o que a gente mais precisa raramente é velocidade.
O que a gente precisa, mesmo, é clareza.
E clareza não se encontra no meio do turbilhão. Não aparece enquanto
o coração dispara, enquanto o corpo está em alerta, enquanto a cabeça gira
sem parar. Decisões tomadas em estado de urgência geralmente carregam o
peso da pressa, não da consciência. E o que a gente chama de “resolver logo”
pode acabar virando um novo problema.
O mundo nos ensinou a confundir rapidez com eficiência. Associar
movimento com solução. Mas há dores que não se curam correndo, há
respostas que não nascem no grito, há escolhas que precisam de silêncio
antes de serem feitas. Existe uma sabedoria enorme em saber esperar. Não
por passividade, mas por inteligência emocional. Por presença. Por
autocuidado.
Quem aprendeu a parar no meio da tempestade não se perdeu no
caminho. Quem soube respirar antes de reagir, evitou ferir mais do que já
estava machucado. Quem se permitiu recuar por um instante, voltou mais
inteiro.
Nem tudo precisa ser feito agora. Nem toda mensagem precisa de
resposta imediata. Nem todo conflito exige confronto. Às vezes, a pausa salva
o que a pressa destruiria. E às vezes, o que parecia urgente se mostra
irrelevante com o tempo. Porque o tempo, quando respeitado, revela
proporções verdadeiras.
O caos é barulhento, mas a sabedoria costuma sussurrar. Por isso,
quem aprende a escutar de dentro para fora já não se desespera com tanta
facilidade. Não porque a vida ficou leve, mas porque o olhar ficou mais sereno.
No fundo, você não precisa de mais pressa. Precisa de mais presença.
@enricopierroofc
O vazio não é ausência — é espaço para o novo
Tem fases da vida em que tudo silencia. Os planos param. Os caminhos
somem. As pessoas se afastam. O coração desacelera e até o corpo parece
mais lento. É um tempo estranho. Você olha em volta e não vê movimento. Não
sente sentido. Não encontra respostas. Parece que algo morreu. Parece que
você ficou para trás.
E a primeira reação é tentar preencher. Colocar qualquer coisa no lugar
do que se perdeu. Preencher o vazio com distração, com urgência, com
barulho. Fingir que tá tudo bem, que não é nada, que logo passa. Mas esse
impulso de preencher rápido é o que atrasa a chegada do novo. Porque o novo
só entra quando há espaço. E espaço se faz com ausência.
A gente aprendeu a ter medo do vazio. Como se ele fosse sinal de
fracasso, de abandono, de erro. Mas o vazio não é castigo. É pausa. É
intervalo. É aquele momento entre uma coisa que não serve mais e outra que
ainda não chegou. É terreno sendo revirado antes da semente. É casulo antes
da asa.
Espiritualmente, o vazio é fértil. É onde a alma se ouve. Onde você
descobre o que realmente importa, o que ficou em silêncio enquanto você
corria. O vazio ensina a olhar para dentro, a se reabastecer com o que é
essencial, a limpar o que estava empilhado demais para deixar algo novo
florescer.
Não tente pular essa parte. Não corra para encher o silêncio. Permita-se
atravessar. Permita-se não saber. Não ter. Não ser. Permita-se respirar no
intervalo. Porque não é ausência. É espaço.
E quando a vida estiver pronta, ela preenche. Com o que faz sentido.
Com o que é leve. Com o que é teu.
@enricopierroofc
A beleza de não ser o que esperavam
Desde cedo, a gente aprende a se encaixar. A falar do jeito certo, a agir do jeito esperado, a esconder tudo o que pode incomodar. A vida vai virando uma sequência de performances, e a gente vai se perdendo no meio do script. Um roteiro que nunca foi nosso, mas que a gente segue para não decepcionar.
Esperam que você seja calmo. Ou extrovertido. Ou racional. Ou obediente. Ou alguém que não cria problema. Esperam que você seja produtivo, gentil, positivo, bonito, sociável, equilibrado, espiritualizado, bem resolvido. E, na dúvida, que sorria. Sempre sorria. Mesmo quando tudo está desabando por dentro.
Tem uma hora que cansa. E, quando cansa de verdade, algo em você acorda. Uma voz que talvez tenha estado adormecida por anos começa a dizer que não, você não precisa agradar. Que não, você não precisa corresponder. Que a sua vida não tem que fazer sentido para os outros. E que ser quem você é, por inteiro, é mais importante do que qualquer aprovação.
Não ser o que esperam é uma forma de liberdade. Dói no começo, assusta, porque desagrada. Mas, depois, vira alívio. Quando você para de fingir, começa a respirar melhor. Começa a se vestir como quiser, a falar o que pensa, a gostar do que gosta, a sair de lugares onde não cabe. Começa a se ver com mais honestidade, e isso muda tudo.
Você não veio ao mundo para atender expectativas que não são suas. Nem para caber em rótulos que te diminuem. Você veio para ocupar o espaço que é seu, mesmo que seja apertado no começo. E só quando você se permite ser inteiro é que as pessoas certas começam a te enxergar.
O resto, vai embora.
o que fica é o que ama você de verdade.
Não pela performance. Mas pela presença.
@enricopierroofc