O valor da gentileza não performática
Tem coisa que a gente faz e ninguém vê. E tudo bem. Porque a
verdadeira gentileza não precisa de testemunha, nem de curtida. Ela acontece
quando ninguém está olhando. Quando você ajuda sem filmar. Quando cede
sem querer aplauso. Quando se importa sem fazer disso um banner.
O mundo anda tão carente de gestos reais que a gente começou a
aplaudir até o básico. Mas tem uma beleza gigante nas ações silenciosas.
Aqueles que não pedem palco, não pedem retorno, não pedem nada. Apenas
acontecem, por princípio, por caráter, por humanidade.
Tem gente que é gentil para aparecer. E tem gente que é gentil porque
não sabe ser diferente. Essa segunda é rara. Mas existe. E quando cruza o
nosso caminho, dá vontade de ser melhor também.
Gentileza não performática é aquela que se recusa a virar espetáculo. É
o bilhete deixado em silêncio, o café preparado sem ser pedido, o “pode deixar
que eu faço” que não vira dívida. É aquela ajuda que ninguém nunca soube,
mas que mudou o dia de alguém. Ou a vida.
Não tem nada mais bonito do que alguém que escolhe ser bom mesmo
quando ninguém repara. E, no fim das contas, é esse tipo de pessoa que
constrói um mundo mais leve, não com discursos, mas com pequenos atos que
somam, curam e inspiram.
@enricopierroofc
O que sobra depois
Ninguém fala muito sobre o depois. Falam do fim, da dor, do
rompimento. Mas ninguém fala sobre o que sobra. Sobre o que fica ali,
espalhado pela casa, pela pele, pelos pensamentos. O depois não é o fim, é a
continuação silenciosa dele. É o eco da ausência, o som abafado de tudo que
não foi dito, a bagunça que a gente precisa recolher sozinho.
Depois que acaba, fica o hábito de olhar para o lado na hora de contar
uma novidade. Fica o impulso de dividir uma coisa boba do dia. Fica aquele
tipo de saudade que não é mais sobre a pessoa, mas sobre quem a gente era
quando estava com ela. O depois é esse espelho estranho que mostra não só
o que se perdeu, mas também quem fomos — e quem não somos mais.
E é nesse depois que a gente reaprende. Não de forma bonita, linear,
cinematográfica. Mas os tropeços. Entre uma recaída e outra, entre um “agora
vai” e um “ainda não”. O depois é feito de tentativa. De sobrevivência
emocional. De se reconstruir sem saber ao certo o que fazer com os cacos.
No fim, o depois não é o vilão da história. Ele é só o espaço em branco
onde a gente pode escrever alguma coisa nova. Às vezes tremendo, às vezes
errado, mas ainda assim escrevendo. Porque, mesmo que não dê para apagar
o que passou, dá para continuar. E continuar, mesmo sem saber como, já é um
recomeço.
@enricopierroofc